De 11 de fevereiro a 16 de julho de 1858, a bem-aventurada Virgem Imaculada dignou-se transmitir uma missão à jovem Bernadette Soubirous, durante 18 aparições.
1ª aparição - 11 de fevereiro
Na manhã dessa quinta-feira, as duas irmãs Bernadette e Antonieta, e uma amiga, Joana Abadie, procuravam lenha junto à gruta de Massabielle, nas margens do rio Gave.
As duas pequenas saltam sem dificuldade um regato. Hesitando um pouco, com medo de colocar os pés na água fria por sofrer de asma, Bernadette vê suas companheiras se afastando.
Enfim decide tirar o calçado para meter os pés na água e ir atrás deles, mas então acontece o que Bernadette relatará depois:
«Vi numa cavidade do rochedo uma moita, uma só, que se agitava como se houvesse muito vento. Quase ao mesmo tempo saiu do interior da gruta uma nuvem dourada, e logo a seguir uma Senhora nova e bela, bela mais que todas as criaturas, como eu nunca tinha visto nenhuma. Veio pôr-se à entrada da concavidade, por cima do tufo de mato.
Logo olhou para mim, sorriu-me e fez-me sinal para que me aproximasse, como o faria minha mãe. Tinha-me passado o medo, mas parecia-me que não sabia onde estava. Esfreguei os olhos, fechei-os, tornei-os a abrir; mas a Senhora estava lá sempre, continuando a sorrir e fazendo-me compreender que eu não estava enganada.
Sem saber o que fazia, tomei o terço e ajoelhei-me. A Senhora aprovou com um sinal de cabeça e passou para os seus dedos um rosário que trazia no braço direito. Quando quis começar a rezar e erguer a mão à testa, o meu braço ficou imóvel, como que paralisado. Só depois de a Senhora fazer o sinal da cruz é que eu o pude fazer também. A Senhora deixava-me rezar sozinha. Ela apenas passava as contas pelos dedos, sem falar. Só no fim de cada mistério dizia comigo: Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Quando acabou a reza, a Senhora voltou a entrar do interior do rochedo e a nuvem de ouro desapareceu com Ela».
Terminada a aparição, Bernadette se volta para o rio e finalmente o atravessa, sentindo as águas mornas.
Bernadette contou à sua irmã as coisas extraordinárias que haviam lhe acontecido na gruta, pedindo que mantivesse segredo.
Ao longo do dia, a imagem da Senhora permaneceu em sua mente. À noite, durante a oração familiar, Bernadette se perturbou e começou a chorar.
Quando sua irmã explicou à mãe o que estava acontecendo, esta proibiu Bernadette de retornar a Massabielle, dizendo que eram ilusões.
Bernadette não conseguiu dormir aquela noite. O rosto da Senhora, tão bela e graciosa, retornava à sua mente com insistência.
Ela descrevia com detalhes a Senhora que havia visto:
«Tem as feições duma donzela de 16 ou 17 anos. Um vestido branco cingido com faixa azul até aos pés. Traz na cabeça véu igualmente branco, que mal deixa ver os cabelos, caindo-lhe pelas costas. Vem descalça, mas as últimas dobras do vestido encobrem-lhe um pouco os pés. Na ponta de cada um sobressai uma rosa dourada. Do braço direito pende um rosário de contas brancas encadeadas em ouro, brilhante como as duas rosas dos pés»
2ª aparição - 14 de fevereiro
Bernadette sentiu uma força interior chamando-a até a gruta, a despeito de ter sido proibida. Com sua insistência, a mãe permitiu que fosse. Temendo que fosse alguma alma do outro mundo, como lhe tinham dito, Bernadette asperge o penedo com água benta.
«Fui à paróquia, pegar uma garrafinha de água benta para jogá-la na visão quando estivesse na gruta, se a visse. E saímos para a gruta. Ao chegarmos lá, cada uma tomou o seu terço e nos ajoelhamos para rezá-lo. Apenas tinha acabado de rezar a primeira dezena, quando vi a mesma Senhora.
Então comecei a jogar água benta nela, dizendo que, se vinha da parte de Deus, que permanecesse; se não, que fosse embora; e me apressava sempre a jogar-lhe água.
Ela começou a sorrir, a inclinar-se. Mais água eu jogava, mais sorria e girava a cabeça, e mais a via fazer aqueles gestos. Eu então, tomada pelo temor, me apressava a aspergi-la mais, e assim o fiz até que a garrafa ficou vazia.»
Virando-se para suas companheiras, Bernadette disse que, a julgar pelo sorriso da Bela Senhora, aquela ação lhe era agradável.
Em seguida, Bernadette entrou em êxtase, alheia ao que acontecia ao seu redor. Assustadas, suas companheiras pensaram que ela tinha morrido e começaram a gritar, chamando a atenção de pessoas que trabalhavam em um local próximo.
Antoine, um rapaz de 28 anos, que acreditava se tratar de alguma brincadeira, ficou impressionado com o que viu ao chegar à gruta:
- Nunca vi algo tão maravilhoso. Eu não podia mentir para mim mesmo: senti que não era digno de tocar a menina.
Por insistência de sua mãe, no entanto, Antoine delicadamente levou Bernadette para longe da gruta, até sua casa. Durante todo o percurso, os olhos de Bernadette permaneceram fixos como se vendo algo um pouco acima à sua frente, voltando ao normal somente ao chegar à casa.
Quando lhe perguntaram o que aconteceu, ela disse que, como das outras vezes, a Senhora tinha acompanhado a récita do terço, desaparecendo ao final da oração.
3ª aparição - 18 de fevereiro
Madame Millet, uma senhora de considerável proeminência local, obteve a permissão da mãe de Bernadette para acompanhá-la à gruta, junto com uma amiga.
As três foram à missa da manhã e então saíram para ir à gruta. Madame Millet levava uma vela benta.
Conta Bernadette:
«Foi na quinta-feira seguinte: fui ali com algumas pessoas importantes, que me aconselharam a pegar papel e tinta e lhe pedisse que, se tinha algo a me dizer, que tivesse a bondade de colocá-lo por escrito.
Tendo chegado lá, comecei a recitar o terço. Após ter rezado a primeira dezena, vi a mesma Dama. Transmiti esse pedido à Senhora.
Ela se pôs a sorrir, e me disse que aquilo que tinha para me dizer, não era necessário escrevê-lo. Mas perguntou-me se eu queria conceder-lhe a graça de voltar ali durante quinze dias. Eu lhe respondi que sim»
Nossa Senhora também disse a Bernadette:
4ª aparição - 19 de fevereiro
Os pais de Bernadette e sua tia Bernarde a acompanharam à gruta, para enfim verificarem pessoalmente o que estava acontecendo.
Embora saindo antes do amanhecer, alguns vizinhos notaram o pequeno grupo e o seguiram.
Pouco depois de começaram a rezar, todos os presentes notaram a face de Bernadette transfigurada e iluminada.
Após a aparição, Bernadette disse que a Senhora expressou satisfação por sua fidelidade à promessa de retornar à gruta.
Disse também que durante a visão ela ouviu vozes alteradas, que pareciam vir do rio, dizendo a ela para fugir dali. A Senhora reagiu apenas olhando na direção das vozes, que logo se dispersaram e sumiram. Esse incidente só foi relembrado pelos presentes mais tarde.
5ª aparição - 20 de fevereiro
Nesta altura, toda a cidade de Lourdes estava a par do que se relatava estar acontecendo na Gruta de Massabieille. Mas somente algumas pessoas haviam realmente visto Bernadette em êxtase diante da visão. Uma dessas pessoas, a própria mãe de Bernadette, Louise, admirava-se de ver a filha transfigurada.
Depois da visão, Louise perguntou o que tinha acontecido durante o êxtase. Bernadette contou que a Senhora, muito gentilmente, havia lhe ensinado uma oração pessoal, repetindo palavra por palavra, até que se conseguisse se lembrar dela inteira.
Até morrer, Bernadette rezou essa oração diariamente, porém não a revelou a ninguém.
Neste dia a Senhora também disse a Bernadette para levar sempre uma vela benta consigo.
6ª aparição - 21 de fevereiro
Nesta ocasião, Dr. Dozous, um médico que acreditava na ciência e não via necessidade de religião, esteve em Massabielle e observou a postura de Bernadette durante a aparição.
Ele se aproximou dela e verificou seus batimentos cardíacos, encontrando o pulso tranquilo e regular, a respiração normal, nada indicando excitação nervosa.
Quando o médico liberou seu braço, Bernadette se levantou e se aproximou um pouco mais da gruta. Logo viu seu rosto mudar da alegria para a tristeza, com duas lágrimas rolando por sua face.
Bernadette depois lhe explicou o que havia acontecido:
«A Senhora desviou durante um instante
de mim o seu olhar, que alongou por cima da minha cabeça. Quando voltou a
fixá-lo em mim, perguntei-lhe o que é que a entristecia e Ela me
respondeu:»
Ainda tocado pela experiência, o Dr. Dozous observou que, mesmo depois de uma experiência tão intensa, Bernadette se retirou de maneira simples e modesta.
No entanto, após essa aparição Bernadette foi interrogada pelo Sr. Jacomet, Comissário de Polícia. Ele queria que ela se retratasse, dizendo que mentia sobre as aparições e a misteriosa Senhora. Tentou confundi-la com detalhes misturados e procurou intimidá-la, sem sucesso.
Bernadette permaneceu tranquila, simples, humilde e sincera. A entrevista foi interrompida pelo pai de Bernadette, François Soubirous.
22 de fevereiro
Neste dia, os pais de Bernadette lhe disseram para ir diretamente para a escola, e nem passasse perto da gruta, pois tinham ficado assustados com o interrogatório do Comissário de Polícia.
Ela fez como ordenado, e voltou à casa para o almoço. Mas ao sair novamente, sentiu uma barreira invisível que a impedia de ir na direção que queria, sendo ao mesmo tempo impelida a ir na direção oposta, para a gruta.
Havia soldados postos para vigiar os movimentos da vidente, prontos a prendê-la caso regressasse à Gruta de Massabielle.
Alguns soldados, curiosos ao ver a atitude de Bernadette, que não conseguia avançar, vendo-a seguir em direção à gruta, perguntaram-lhe para onde ia.
Bernadette simplesmente respondeu:
- Estou indo à gruta.
Eles nada disseram e a acompanharam até o local. Ficaram a seu lado todo o tempo em que ela rezou.
Mas nesse dia a Senhora não apareceu.
7ª aparição - 23 de fevereiro
Cerca de 150 pessoas foram até a Gruta por
volta das 6h. O casal Estrade, depois de uma conversa com Pe. Peyramale, o pároco de Lourdes, decidiu ir verificar pessoalmente o que acontecia.
Estando bem próximos a Bernadette, puderam ver que durante todo o momento em que rezava, olhava para o nicho como quem esperava. Subitamente, toda sua aparência foi transformada e começou a sorrir.
O sr. Estrade disse:
- Não era mais Bernadette; era como um daqueles seres privilegiados de face resplandecente que contemplam a glória do Paraíso.
Com as dúvidas dissipadas, os homens presentes tiraram os chapéus e se ajoelharam.
Ao longo da aparição, o semblante de Bernadette parecia sério e se prostrou algumas vezes. Quando a comunicação se interrompia, voltava a récita do terço, sem que Bernadette movesse os olhos da visão que tinha.
Esta aparição durou aproximadamente uma hora. Ao final, Bernadette, de joelhos, aproximou-se da roseira e beijou o chão.
Foi o dia da revelação de três segredos, sobre os quais Bernadette disse apenas que se referiam a si mesma, e que não deveria revelá-los.
8ª aparição - 24 de fevereiro
Quatrocentas a quinhentas pessoas estavam na gruta nesse dia. Bernadette entrou em êxtase logo na primeira dezena do terço. Sua expressão passou da alegria para a tristeza. Virou-se para a multidão e disse:
«Penitência... penitência... penitência...»
9ª aparição - 25 de fevereiro
Neste dia, as pessoas presentes ficaram chocadas e admiradas com as atitudes de Bernadette: andou de joelhos sobre a rocha, afastou a roseira para beijar as pedras da gruta, escavou o chão e enlameou o rosto, colheu uma planta do chão e comeu-a.
Mais tarde, explicou:
«Enquanto eu rezava, a Senhora me disse com sua voz séria mas amável:»
«Como eu não sabia onde estava essa fonte, eu me voltei para o Gave. A Senhora me chamou de volta e me apontou para ir à esquerda da gruta. Obedeci mas não vi água nenhuma. Sem saber como consegui-la, cavei a terra e surgiu água suja. Tirei-a três vezes. À quarta já pude beber e me lavar”.»
Sem que o povo soubesse o que acontecia, mais uma vez a Senhora apontou para o chão da gruta e disse a Bernadette:
Terminada a visão, Bernadette fez o sinal da Cruz e sua tia rapidamente a levou para casa, temendo que o povo a agredisse, confuso com o que vira.
Mais tarde naquele dia, o lugar escavado estava transbordando e a água gotejava pela rocha.
No dia seguinte, já havia um fluxo de água.
Um famoso hidrogeologista daquele tempo, abade Richard, declarou, depois de longo e cuidadoso estudo, que a fonte foi milagrosa em sua descoberta e em seus efeitos, embora não em sua existência. Estudos posteriores concluíram que a própria rocha é a fonte da água, perfeitamente pura excetuando mínimos depósitos de sais, e que não contém ingredientes terapêuticos.
26 de fevereiro
Bernadette ficou rezando na gruta por um longo tempo, porém a Senhora não apareceu.
Com a água agora jorrando da gruta, o povo novamente recuperou a fé nos acontecimentos extraordinários.
10ª aparição -27 de fevereiro
Na manhã desse sábado, Bernadette retornou à gruta, sem se abater pelo não aparecimento da Senhora no dia anterior. Afinal, Ela lhe havia pedido para ir lá diariamente por 15 dias, mas não prometeu que apareceria todos os dias.
Durante todo o tempo da visão, Bernadette tinha na mão uma vela benta. Em diversas ocasiões ela se prostrou, tocando a terra, algumas vezes sorrindo, outras vezes em lágrimas.
A Senhora lhe pediu para beijar o chão em penitência pelos pecadores. Depois, ficou alguns momentos em silêncio e finalmente disse a Bernadette:
Terminada a aparição, Bernadette contou à sua tia Bernarde o que a Senhora lhe havia pedido e, mesmo confessando que tinha mais medo do padre do que de um policial, foi imediatamente se desincumbir da missão recebida.
Pe. Peyramale conhecia Bernadette de nome, porém não sabia quem era a mocinha que chegou à sua casa. Quando ela se identificou, ele disse: "Ah, então é você!"
Embora frio de início, pediu a Bernadette que se sentasse e lhe contasse tudo. Todas as suas dúvidas caíram por terra, porém não demonstrou isso à menina. Pediu uma prova da veracidade do fenômeno:
- Se a Senhora deseja realmente uma capela, que diga seu nome e faça florescer a roseira da Gruta.
Pe. Peyramale ainda levantou algumas objeções e alertou-a de que podia estar sendo vítima de uma farsa. Enfatizou sobretudo o fato da Senhora não ter revelado seu nome até o momento:
- Diga à Senhora que a enviou, que o pároco de Lourdes não tem o hábito de tratar com pessoas que ele não conhece. Diga que antes de mais nada ele exige saber o nome Dela e que - mais ainda - Ela prove que esse nome é Seu. Se esta Senhora tiver o direito a uma Capela, Ela compreenderá o sentido de minhas palavras a você; se Ela não compreender, diga-Lhe que Ela não se preocupe em me enviar mais mensagens.
11ª aparição -28 de fevereiro
Fazia um frio cortante, mas mesmo assim 1200 pessoas se encontravam na Gruta desde o amanhecer. Bernadette chegou às 7h, com sua tia Lucille.
Pôs-se de joelhos, rezou o terço e beijou a terra, tendo dificuldade de se mover para fazer as penitências pedidas pela Senhora, devido ao número de pessoas presentes.
12ª aparição -1º de março
Bernadette não conseguiu fazer o sinal da Cruz para começar o terço e a Senhora a orienta a rezar usando seu terço e não o de Paulina Sans, que lhe tinha pedido para usar o seu durante a aparição.
Sem saber o que se passava, o povo presente ergueu seus terços como fez Bernadette, ao mostrar à Senhora o terço que usava.
Foi a única vez em que esteve presente um sacerdote, recém-ordenado, que ignorava a proibição do clero de comparecer ao local.
13ª aparição - 2 de março
Bernadette foi à gruta acompanhada de suas tias Lucille e Basille. Depois da aparição, Basille percebe a sobrinha agitada e pergunta o que tinha acontecido. A Senhora havia pedido novamente que falasse ao padre pedindo uma capela no local, e que o povo fosse até lá em procissão.
Depois de se mostrar bastante irritado, tendo tido duas tumultuadas entrevistas (ao fim da primeira, Bernadette estava tão assustada com o padre, que se esqueceu de falar sobre a procissão) Pe. Peyramale se rendeu à sinceridade e simplicidade da menina, que rebatia suas objeções e acusações sem hesitar. Encerrou a conversa, após de um momento de reflexão:
- Pergunte o nome da Senhora mais uma vez. Quando soubermos o nome Dela, então Ela terá uma capela - e eu lhe prometo, não será uma capela pequena!
14ª aparição - 3 de março
Cerca de 3 mil pessoas estavam aguardando Bernadette na gruta aquela manhã.
Ela chegou acompanhada pela mãe, ajoelhou-se e fez as orações de costume. Mas a Senhora não apareceu.
Seu desapontamento era visível para todos. Bernadette pensou que havia falhado na primeira visita ao pároco no dia anterior, e por isso a Senhora não tinha vindo.
Andre Sajous, um parente de Bernadette, que tinha cedido a casa aos Soubirous, sem cobrar aluguel, também percebeu a tristeza da menina e se ofereceu para voltar à gruta com ela.
Era por volta de 9 horas quando retornaram. A aparição então aconteceu durante a oração do terço, como de costume.
De lá, Bernadette voltou à casa de Pe. Peyramale, que a recebeu com menos resistência. Ela lhe contou que a Senhora apenas sorrira ao ouvir as condições que ele havia colocado e que Ela queria a capela. Pe. Peyramale perguntou se Bernadette tinha dinheiro para a construção e ele respondeu: "Nem eu! Peça à Senhora para lhe dar algum".
Mais tarde, Jeanne Marie, prima de Bernadette, perguntou-lhe por que ela precisou ir duas vezes à gruta para a Senhora aparecer naquele dia. Ela repetiu a resposta que ouviu da Senhora à mesma pergunta:
15ª aparição - 4 de março
Toda a França já sabia que este era o último dos 15 dias durante os quais Bernadette havia prometido ir à gruta, a pedido da misteriosa Senhora. Esperava-se um grande sinal, algum milagre ou a revelação de quem era a Senhora.
Mas, para os presentes, nada excepcional aconteceu, além do costume. A aparição começou no segundo mistério do primeiro terço. Acabado esse terço, foram rezados mais dois. Bernadette algumas vezes se levantou e percorreu o espaço da gruta, seguida de perto por sua prima Jeanne Marie. O êxtase durou mais de uma hora.
Quando lhe perguntaram o que havia acontecido, Bernadette respondeu:
- Ela sorriu ao partir, mas não se despediu... Devo continuar vindo aqui, mas não sei se a Senhora aparecerá de novo.
16ª aparição - 25 de março
Nos próximos 20 dias, Bernadette não sentiu o chamado interior para ir à gruta pela manhã. Ela ia sozinha ao final da tarde, passando bastante tempo em oração e contemplação.
Nessa altura, já se havia instalado na gruta um altar rústico, perto do qual os fiéis deixavam donativos, que depois viriam a ser usados para a construção da capela da Senhora. Curiosamente, esses donativos nunca foram roubados, apesar de permanecerem expostos.
Na noite do dia 24 de março, Bernadette disse aos pais que tinha sentido o chamado de ir à gruta na manhã seguinte. O dia mal raiou e ela se apressou até o local. Sendo a Festa da Anunciação, havia muita gente na gruta.
«Enquanto rezava, assaltava-me teimosamente o desejo de lhe pedir que dissesse o seu nome. Receava, porém, ser importuna com uma pergunta que já tinha ficado sem resposta mais de uma vez...
Num impulso, que não me foi possível conter, as palavras saíram me boca...
- Senhora, quereis ter a bondade de me dizer quem sois?
A única resposta foi uma saudação de cabeça, acompanhada dum sorriso. Nova tentativa, seguida de idêntica resposta.
A terceira vez que lhe perguntei, tomou um ar grave e humilde. Em seguida, juntou as mãos, ergueu-as... olhou para o céu... depois separando lentamente as mãos e inclinando-as para mim, deixando tremer um pouco voz, disse-me:»
A imagem na gruta de Lourdes com a identificação "Eu sou a Imaculada Conceição"
(como dito por Nossa Senhora, no dialeto de Lourdes)
«Então eu voltei de novo à casa do senhor pároco, para lhe contar que ela me tinha dito que era a Imaculada Conceição.
Ele me perguntou se eu estava bem segura. Respondi que sim, e que para não esquecer essa palavra eu a tinha repetido durante todo o caminho.»
Bernadette não sabia o significado de “Imaculada Conceição”, cujo dogma o Bem-Aventurado Papa Pio IX proclamara poucos anos antes!
- Muito bem! - disse o padre. - Agora devo pensar o que deve ser feito.
E entrou na casa, deixando Bernadette e sua tia no jardim.
Mais tarde, Pe. Peyramale admitiu a uma pessoa próxima o efeito das palavras da menina:
- Fiquei tão admirado que minhas pernas tremeram, quase fui ao chão.
17ª aparição - 7 de abril
Bernadette nunca se esqueceu de levar uma vela benta acesa até a gruta, desde a primeira vez que a Bela Senhora assim lhe pediu.
Durante esta aparição, inconscientemente, Bernadette colocou uma das mãos sobre a chama da vela. As pessoas testemunharam com grande espanto, que a chama ardia entre seus dedos. Mas ela continuou rezando por mais quinze minutos, sem nada perceber.
Terminada a oração, verificando-se que a menina não tinha qualquer queimadura, o Dr. Dozous pegou outra vela e, sem qualquer aviso, fez a chama tocar a mão de Bernadette, que gritou de dor imediatamente.
18ª aparição - 16 de julho
Como é festa de Nossa Senhora do Carmo, Bernadette assiste à missa e comunga na igreja. O chamado de Nossa Senhora a surpreendeu ao anoitecer, quando ela se encontrava em oração na igreja paroquial.
A Gruta tinha sido fechada com uma cerca de madeira, por ordem das autoridades hostis à aparição.
Bernadette passou então com sua tia Lucile e algumas amigas para o outro lado do rio Gave, diante da Gruta. Todas se ajoelharam e rezaram.
Após alguns instantes, as mãos de Bernadette afastaram-se em sinal de maravilhada surpresa, como por ocasião da quinzena de aparições. Terminado o êxtase, e voltando à casa, ela confidenciou:
«Não via o rio, nem as tábuas - explicará ela mais tarde. Parecia-me que entre mim e a Senhora, não havia mais distância que nas outras vezes. Só a via a Ela. Nunca a vi tão bela.»
Foi o último adeus da Senhora na gruta. Bernadette Soubirous somente voltaria a ver Nossa Senhora 21 anos depois, em Nevers, no dia 16 de abril de 1879, quando deixou esta terra de exílio para contemplá-la eternamente no Céu!